"Todo dia ela faz tudo sempre igual/ Me sacode às 6:00h da manhã..."
Pois é ... Agora faço parte da estatística do Lula - 1.700.001 novos empregos com carteira assinada- e sigo toda uma rotina.
Meu dia começa "mais ou menos" como a música do Chico. Porque é o despertador é quem me acorda, é às 6:45h da manhã, meu ritual para um dia de trabalho começa e todo dia eu faço tudo sempre igual!
Na verdade, meu ritual doméstico é bem sem graça: banho, musiquinha, trocar de roupa, café ou banana com mel , atenção para minhas cachorras e adeus ao lar do doce lar. Ao fechar o portão de casa e o percurso até o trabalho começa é que as coisas acontecem...
Para a vida não ficar sem graça e monótona desenvolvi uma relação oculta com as pessoas que cruzam parte do meu itinerário até meu trabalho. Além de seguir o relógio convencional, sigo o relógio do cotidiano desses meus coleguinhas de percurso. Assim, há toda uma rotina ambiental para que eu possa pegar o ônibus -com o nome de um Bandeirante - para eu chegar no meu trabalho.
Tudo acontece no ponto de ônibus em frente a uma pista de caminhada:
- O moço de calça jeans e jaqueta de napa preta mal desce do ônibus alaranjado e acende um cigarro para apagá-lo 5 minutos depois, porque o ônibus azul chega; (outro dia, ele atrasou um pouco e quase disse a ele para não acender o cigarro porque provavelemente o ônibus azul passaria naquele momento. Ele acendeu e jogou o cigarro no chão porque o ônibus passou mesmo!)
- Um falante senhor com cara de turco - estou quase certa dele ser parente do pai de uma amiga minha- passa caminhando com um colega mudo na pista de caminhada do outro lado da rua; (outro dia, acho que o coleguinha mudo cansou de ouvir e não foi caminhar, aí o turco falante estava num desconsolo de dar dó!)
- Um jovem moço encosta na árvore para aguardar o ônibus verde da empresa que pára sem ele ter que dar sinal;( nesse momento, faltam poucos minutos para meu ônibus passar)
-Uma mulher sempre conta casos a uma outra sobre a demora do ônibus e os malabarismos que ela faz quando perde a hora; (semana passada, essa outra chegou e o ônibus já tinha passado. Eu não resisti e avisei . Ela ficou olhando com uma cara: "essa psicopata está me vigiando.")
-Esporadicamente, um senhor idoso com uma ferida grande na perna- que graças a Deus está cicatrizando - espera um ônibus que nunca chega; ( para mim ele fica no ponto do ônibus para passar o tempo e quando penso nisso quase morro! Porque já o vi indo embora a pé depois de um tempo assentado no ponto. Ou... Pensando aqui agora ele também faz um estudo do local e das pessoas! Ficarei com essa alternativa para suavizar minha consciência.)
-O ônibus verde, depois o vermelho com nome de Santa, o vermelho com nome de Capitão e o vermelho de nome de uma árvore -necessariamente nessa ordem- passam.
Aí, depois dessa sequência de fatos chega o meu ônibus Bandeirante, já dando seta sem eu precisar de dar o sinal! Porque o motorista e trocador sabem do sorriso pontual de bom dia e todos do ônibus me aguardam para juntos cantar : "e quero que você venha comigo, todo dia, todo dia!"
PS. A foto acima é da Exposição "Você está aqui?" de Estevão Machado que esteve no Palácio das Artes, Belo Horizonte- MG 11-30 de abril e eu a visitei na semana passada. “A proposta é colher flagrantes de gente simples, anônimos, em situações comuns. Retratar a população em meio ao turbilhão urbano: a parada do ônibus, a banca de revistas, a porta da loja, o passageiro numa janela, uma vitrine, um engraxate”, explica o artista Estevão Machado.
PS. Turma da Lili- donos de blogs- prometo ler e comentar os posts antigos,ok?!