quarta-feira, março 08, 2006

8 de Março: com licença poética, vou de Adélia e afins!


Com licença poética
Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Todas nós, mulheres desdobráveis, que vivemos todos os dias a profecia do anjo da Adélia-inspirado no anjo do Drummond- cantemos bem alto, ao som de Chico Buarque: "Mas vou até o fim!"
E sejamos felizes! Amén!

PS. Este post faz parte da blogagem coletiva sugerida pela Denise.